Eu vivo num mundo onde tudo parece ser colorido.

Prédios, casas, carros, roupas, sentimentos.

Não importa pra onde olhe, eu sempre vejo uma mistura nada homogenia de diferentes cores, em diferentes tons, diferentes brilhos, formando diferentes combinações.

Algumas agradáveis ao meu olhar, a maioria nem tanto.

Numa esquina, vejo um misto de um amor vermelho brilhante pareado com um azul desbotado.

Em outra, parece ter uma amizade perdendo a saturação.

Mais a frente, vejo um amarelo de um lado da calçada, e do outro um azul marinho, que apesar de serem minha combinação favorita, parecem estar destinados a nunca se encontrarem.

Na janela de dois prédios, observo verdes em tons levemente diferentes, que se olham fixamente quase como aquele imã que eu pus na geladeira ontem.

Chego numa praça, e minha visão se semelha à minha mente. 

Uma bagunça de cores que faz meu olho doer.

Me encontro no meio da multidão colorida, e por algum motivo pareço não ajudar na combinação.

Por algum motivo sou um ponto preto e branco entre tantas cores.

Por algum motivo, no contexto geral, aquele ponto parece estar perdido.

Por algum motivo, no meio das cores, ele não pertence.

Por que?

Aos poucos, a multidão se dispersa.

"Tá tarde" a mãe laranja fala pro filho em tom amarelado.

Aos poucos, a maioria das cores vai embora.

Aos poucos, parece acontecer um rodízio das cores que se sentam ao meu lado no banco.

Aos poucos, percebo que o preto e branco pode não se dar bem na multidão, mas tudo que ele precisa é uma cor complementar.

Quase todas parecem servir.

Depois de um tempo nesse vai e vem de cores do meu lado, resolvo pesquisar sobre o preto e branco.

Descubro que, enquanto o preto é a subtração de todas as cores, o branco é nada menos que a soma de todas elas.

Dois extremos.

Dois lados opostos em um ponto só.

O que eu achava ser minha falta de cores é na verdade dois lados pesados de uma balança que nunca se equilibra, mas oscila de um extremo ao outro.

Percebo que isso me define bem. 

Esse preto e branco.

Essa é a reação que outros possuem de mim. 

Serei totalmente preto, ou claramente branco, de acordo com a cor que sentar do meu lado.

Combino com todas elas, mas nem toda combinação me agrada. 

A cor do meu lado tem que lidar com a constante mudança do preto pro branco. Mas parece que apesar de um desafio pra ela, essas combinações valem a pena.

Essa mudança parece ter um ar de aventura que nem todas as cores ousam fazer parte.

Sou um ponto preto e branco. 

Às vezes mais preto.

Às vezes mais branco.

A única coisa que me recuso é ser um cinza sem vida.

-Jon.